Se peças feitas na China são ruins, imagine um carro inteiro
Enviado: Ter Abr 20, 2010 9:02 am*** Hauhauhauhauhauhaauh ***
Na semana passada, a GM anunciou a interrupção das linhas de montagem das picapes Chevrolet Colorado e GMC Canyon, devido a defeitos de fabricação em microchips chineses. Se uma peça chinesa malfeita pode parar uma fábrica, o que dizer de um carro totalmente chinês?
A opinião mais comum é que as peças feitas na China têm qualidade inferior às - coloque aqui o nome do seu país favorito. Apesar dessa opinião ter sido verdade há duas décadas, o rápido crescimento do comércio mundial transformou essa opinião em meia verdade.
Lembram-se quando a NAFTA (North American Free Trade Agreement, acordo de livre comércio da América do Norte) foi assinado? Bem, não o culpamos, foi bem chato, e fechado lá atrás em dezembro de 1993 pelo ainda inexperiente Bill Clinton. Os opositores (protecionistas) consideraram uma péssima ideia, e o então eterno candidato à presidência Ross Perot disse “Vocês vão ouvir um som gigantesco dos empregos sendo sugados para baixo do país”. Bem, ele estava certo. Quase do dia para a noite, cidadezinhas empoeiradas na fronteira com o México se tornaram potências industriais. Essas “machiladoras”, como são chamadas, ofereciam trabalho barato com impostos baixos, um impulso para produção em massa, incluindo o setor automotivo. O único problema foi que o México também ouviu um som gigantesco de sucção, e a China estava do outro lado do canudo.
Por mais barata que a mão de obra mexicana fosse, a dos chineses era incomparavelmente menor. Algumas estimativas davam como valor por uma hora de trabalho menos de dois reais, dependendo da região. Com o amadurecimento da internet, sistemas de CAD, prototipagem digital e do comércio eletrônico, no começo do século 21, a terceirização para a China não se tornou apenas barata, como também relativamente fácil. As normas de segurança consideravelmente mais tolerantes permitiam o uso de equipamentos antigos, e métodos de produção de baixo custo – e às vezes ilegais fora do país – para fornecer componentes impressionantemente baratos. O problema se tornou o frete. Linhas de produção que cobriam longas distâncias fizeram com que as peças mais complexas, leves e facilmente miniaturizáveis valessem a pena fabricar na China, o que se traduziu nas peças mecânicas menores e os componentes eletrônicos.
Praticamente todos na cadeia produtiva automobilística migraram para fabricação chinesa com os dois pés, fornecendo capital, know-how e treinamento para levantar cidades inteiras dedicadas à fabricação, como Guangzhou. Mesmo com esses recursos, no princípio, a qualidade era muito baixa. Relatos de ambientes de trabalho infernais, trabalhadores incapacitados fazendo serviços altamente complexos com equipamentos delicados, e trabalhadores mergulhando placas de circuito em tanques de chumbo derretido com as mãos eram comuns. Interrupções de entregas e escassez de peças eram problemas constantes, enquanto os responsáveis pelas fábricas procuravam cortar custos e usar subcomponentes mais baratos, tudo para aumentar o lucro.
As coisas então começaram a melhorar. A concorrência dentro da China se mostrou acirrada e as empresas desonestas saíram de cena, ou foram compradas por concorrentes bem-sucedidos. As empresas fora do país perceberam que a China era um mercado gigante a ser explorado e começaram a levar a sério a produção local, com o estabelecimento de gerências locais, e implementação de padrões de trabalho e melhor treinamento. Claro que essas ações reduziram a margem de lucro, mas mesmo dobrando o custo da mão de obra, até triplicando, seria pouco perto dos custos de um grande recall.
Então os fabricantes chineses entraram em jogo. Por muito tempo, os “carros” chineses eram perigosas piadas sobre rodas, soldados com retalhos de ferro em fábricas empoeiradas por trabalhadores pré-adolescentes, mas a entrada de capital estrangeiro tinha que ir para algum lugar, e está indo para a indústria automotiva chinesa em peso. Os norte-americanos precisaram de quase 40 anos para aprender a fazer um carro decente e acessível, os japoneses fizeram isso em vinte, os coreanos em quinze, e os chineses ainda estão aprendendo, mas provavelmente seu aprendizado seguirá a tendência. Aquisições questionavelmente legais de marcas como MG (atualmente Roewe) e a expansão da padronização (ou commoditização em economês) de subsistemas, deixou o conhecimento para construir carros competitivos à distância de um cheque polpudo, ao invés de anos de investimento em pesquisa e desenvolvimento. Vá aos fornecedores e pegue o sistema de assentos A, o sistema de airbags B, o sistema de combustível X, o sistema de aquecimento e ar condicionado Y, projete alguns adaptadores e monte tudo sobre o seu próprio chassi, que você também pode terceirizar a um fornecedor.
Mas, seriam os carros chineses ruins? Sim, mas depende do carro. Para cada Buick Regal bem feito você tem dúzias de Tang Hua Detroit Fish. Entre no Geely mais bem acabado e ele ainda tem cheiro de armas químicas, o acabamento é pobre, e os desenhos parecem estranhos, mas você não precisa mais se preocupar com dobradiças de portas fixadas com solda fria, porque esse tipo de coisa já foi resolvido. A questão é, qualquer um que esteja assistindo o que os chineses fabricam percebeu sua técnica melhorar em pouco tempo, mesmo que você não acredite que um carro chinês poderá competir com um carro japonês, alemão ou americano. Estamos partindo para a China para o salão de Pequim no final da semana, onde vamos explorar o melhor e talvez o não tão pior que eles têm a oferecer.
F J
Na semana passada, a GM anunciou a interrupção das linhas de montagem das picapes Chevrolet Colorado e GMC Canyon, devido a defeitos de fabricação em microchips chineses. Se uma peça chinesa malfeita pode parar uma fábrica, o que dizer de um carro totalmente chinês?
A opinião mais comum é que as peças feitas na China têm qualidade inferior às - coloque aqui o nome do seu país favorito. Apesar dessa opinião ter sido verdade há duas décadas, o rápido crescimento do comércio mundial transformou essa opinião em meia verdade.
Lembram-se quando a NAFTA (North American Free Trade Agreement, acordo de livre comércio da América do Norte) foi assinado? Bem, não o culpamos, foi bem chato, e fechado lá atrás em dezembro de 1993 pelo ainda inexperiente Bill Clinton. Os opositores (protecionistas) consideraram uma péssima ideia, e o então eterno candidato à presidência Ross Perot disse “Vocês vão ouvir um som gigantesco dos empregos sendo sugados para baixo do país”. Bem, ele estava certo. Quase do dia para a noite, cidadezinhas empoeiradas na fronteira com o México se tornaram potências industriais. Essas “machiladoras”, como são chamadas, ofereciam trabalho barato com impostos baixos, um impulso para produção em massa, incluindo o setor automotivo. O único problema foi que o México também ouviu um som gigantesco de sucção, e a China estava do outro lado do canudo.
Por mais barata que a mão de obra mexicana fosse, a dos chineses era incomparavelmente menor. Algumas estimativas davam como valor por uma hora de trabalho menos de dois reais, dependendo da região. Com o amadurecimento da internet, sistemas de CAD, prototipagem digital e do comércio eletrônico, no começo do século 21, a terceirização para a China não se tornou apenas barata, como também relativamente fácil. As normas de segurança consideravelmente mais tolerantes permitiam o uso de equipamentos antigos, e métodos de produção de baixo custo – e às vezes ilegais fora do país – para fornecer componentes impressionantemente baratos. O problema se tornou o frete. Linhas de produção que cobriam longas distâncias fizeram com que as peças mais complexas, leves e facilmente miniaturizáveis valessem a pena fabricar na China, o que se traduziu nas peças mecânicas menores e os componentes eletrônicos.
Praticamente todos na cadeia produtiva automobilística migraram para fabricação chinesa com os dois pés, fornecendo capital, know-how e treinamento para levantar cidades inteiras dedicadas à fabricação, como Guangzhou. Mesmo com esses recursos, no princípio, a qualidade era muito baixa. Relatos de ambientes de trabalho infernais, trabalhadores incapacitados fazendo serviços altamente complexos com equipamentos delicados, e trabalhadores mergulhando placas de circuito em tanques de chumbo derretido com as mãos eram comuns. Interrupções de entregas e escassez de peças eram problemas constantes, enquanto os responsáveis pelas fábricas procuravam cortar custos e usar subcomponentes mais baratos, tudo para aumentar o lucro.
As coisas então começaram a melhorar. A concorrência dentro da China se mostrou acirrada e as empresas desonestas saíram de cena, ou foram compradas por concorrentes bem-sucedidos. As empresas fora do país perceberam que a China era um mercado gigante a ser explorado e começaram a levar a sério a produção local, com o estabelecimento de gerências locais, e implementação de padrões de trabalho e melhor treinamento. Claro que essas ações reduziram a margem de lucro, mas mesmo dobrando o custo da mão de obra, até triplicando, seria pouco perto dos custos de um grande recall.
Então os fabricantes chineses entraram em jogo. Por muito tempo, os “carros” chineses eram perigosas piadas sobre rodas, soldados com retalhos de ferro em fábricas empoeiradas por trabalhadores pré-adolescentes, mas a entrada de capital estrangeiro tinha que ir para algum lugar, e está indo para a indústria automotiva chinesa em peso. Os norte-americanos precisaram de quase 40 anos para aprender a fazer um carro decente e acessível, os japoneses fizeram isso em vinte, os coreanos em quinze, e os chineses ainda estão aprendendo, mas provavelmente seu aprendizado seguirá a tendência. Aquisições questionavelmente legais de marcas como MG (atualmente Roewe) e a expansão da padronização (ou commoditização em economês) de subsistemas, deixou o conhecimento para construir carros competitivos à distância de um cheque polpudo, ao invés de anos de investimento em pesquisa e desenvolvimento. Vá aos fornecedores e pegue o sistema de assentos A, o sistema de airbags B, o sistema de combustível X, o sistema de aquecimento e ar condicionado Y, projete alguns adaptadores e monte tudo sobre o seu próprio chassi, que você também pode terceirizar a um fornecedor.
Mas, seriam os carros chineses ruins? Sim, mas depende do carro. Para cada Buick Regal bem feito você tem dúzias de Tang Hua Detroit Fish. Entre no Geely mais bem acabado e ele ainda tem cheiro de armas químicas, o acabamento é pobre, e os desenhos parecem estranhos, mas você não precisa mais se preocupar com dobradiças de portas fixadas com solda fria, porque esse tipo de coisa já foi resolvido. A questão é, qualquer um que esteja assistindo o que os chineses fabricam percebeu sua técnica melhorar em pouco tempo, mesmo que você não acredite que um carro chinês poderá competir com um carro japonês, alemão ou americano. Estamos partindo para a China para o salão de Pequim no final da semana, onde vamos explorar o melhor e talvez o não tão pior que eles têm a oferecer.
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